segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nota sobre o aumento do IPI

 Acordei hoje de manhã, e como faço todos os dias fui checar as redes sociais. Foi quando vi algo que me deixou muito chateado: uma pessoa reclamando que não poderia mais comprar o carro importado que planejava devido ao aumento da alíquota do IPI para carros importados.

Uma reação dessa só pode vir de muito egoísmo ou muita ignorância. Desde o ano passado, nós vemos sofrendo com a sobrevalorização do Real, que faz com que as importações fiquem mais baratas. Com importações mais baratas, os carros importados passam a competir com os nacionais, como podemos ver pela crescente oferta de carros chineses no mercado. O aumento da alíquota do IPI vem tentar remediar esta situação, uma vez que a solução mesmo seria uma política de juros mais baixos, que levaria a um real menos valorizados, fazendo com que o processo de desindustrialização que vivemos hoje se revertesse.

A política de redução de juros não é executada por vários fatores, entre os principais coloco: contenção da inflação, que devido a fatores técnicos é pouco afetada pelos juros brasileiros, e o fato de que qualquer governo no Brasil dependa do apoio do sistema financeiro para governar, sendo que este se beneficia grandemente da política de juros altos. Dito isso, temos o aumento da alíquota como um paliativo para evitar que mais empregos se percam na indústria. E lembrando que quanto mais desempregados, menor é o salário dos que ainda estão empregados. Portanto, essa medida se reflete diretamente na vida dos metalúrgicos que trabalham na indústria automotiva.

Claro que para que isso acontece houve lobby das grandes montadoras no Brasil, pois elas foram as maiores beneficiadas com a medida. Mas se o aumento de impostos sobre as importações não é a melhor medida a ser tomada, é melhor do que não fazer nada para proteger a indústria e os empregos aqui. Caso o câmbio estivesse num nível menos apreciado e mais competitivo, o que seria o ideal, o preço do carro importado seria o mesmo ou ainda mais alto do que com a nova alíquota. As exigências de conteúdo nacional que acompanham o aumento da alíquota vão na mesma direção: diminuir a vulnerabilidade da indústria ao câmbio sobrevalorizado.

A discussão poderia ir longe, com todas as questões que envolve, como o nível ideal do câmbio para o Brasil, mas concluo com a constatação de que é melhor uma medida paliativa de ajuda setorial do que deixar a economia a mercê do câmbio sobrevalorizado. A alternativa poderia muito bem nos levar a um retrocesso enorme, de volta aos tempos de economia primário-exportadora. Com tudo isso em mente, acho que a troca da camionete pode esperar mais alguns anos, não?

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