quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Referendo Grego e as Expectativas Racionais

Não pude deixar de notar uma grande contradição que não vi ninguém levantar na situação grega: o mercado financeiro reagiu extremamente mal ao anúncio do referendo popular para aprovação da ajuda da União Européia a Grécia. A reação foi tão forte que o primeiro-ministro Papandreau foi obrigado a voltar atrás, e ainda acabou sendo forçado a renunciar. Até aí, nenhuma novidade. Mas não podemos nos esquecer que a teoria ortodoxa da economia, utilizada largamente pelos economistas do mercado financeiro para legitimar suas ações, têm como um de seus fundamentos a hipótese das expectativas racionais. E o que são as tais expectativas racionais?
  A hipótese das expectativas racionais postula que, na média, as pessoas sempre acertam suas previsões quanto ao comportamento da economia, desde que possuam as informações adequadas. Não quer dizer que as pessoas sejam infalíveis: a hipótese se utiliza do distribuição normal das probabilidades, derivada do teorema central do limite, que postula que o comportamento das pessoas irá convergir para uma média, ou seja, que apesar de as pessoas errarem, os erros irão se compensar entre si e na média, as pessoas acertarão suas previsões. A hipótese das expectativas racionais é fundamental para a defesa da credibilidade como principal qualidade necessária para uma política econômica eficiente, pois uma política baseada em regras bem definidas e de fácil entendimento farão com que as pessoas sempre tenham as informações adequadas, tornando o comportamento da economia o melhor possível. E esta defesa da credibilidade é o que tem levado o Banco Central Europeu a exigir as políticas de austeridade que vem devastando a Grécia, como tratei neste post.
 Não sou especialista na área, mas me salta aos olhos a hipocrisia: se as suas recomendações de política são baseadas em uma hipótese de que o povo, servido das informações adequadas, sempre tomará a melhor decisão possível, porque reagir tão mal à possibilidade de um referendo? Será o mercado financeiro munido de informações melhores do que o restante da população? Se for assim, onde está a tão falada transparência? Ou talvez o que é melhor para a Grécia não seja necessáriamente o melhor para o mercado financeiro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário